quinta-feira, 17 de setembro de 2015

DÍVIDA PÚBLICA X DÍVIDA SOCIAL




Estive analisando alguns dados da execução orçamentária do Governo Federal referentes ao final de 2014 e gostaria de compartilhar com vocês algumas humildes reflexões.

De um total de R$ 2.730 trilhões, o Orçamento Geral da União dedicou a bagatela de R$ 950 bilhões para o pagamento de juros e amortizações da dívida pública da União. Estes valores astronômicos correspondem a 43% do Orçamento.

Com a Previdência Social, que dizem que vai quebrar o governo se acabarem com o fator previdenciário, os gastos chegaram a 18%, com a saúde, 4,1%, com a educação, 3,9% e com saneamento básico, 0,08%. A dívida pública hoje chega a 54% do PIB.

A CPI da Dívida Pública que ocorreu no Congresso Nacional, durante o ano de 2010, proposta pelo PSOL e devidamente abafada pela grande mídia, com a conivência do PT, PMDB e demais partidos da base aliada, constatou uma série de irregularidades na sua administração, rolagem e refinanciamento. O relatório final foi submetido ao Ministério Público Federal para aprofundamento das investigações e até hoje não se tem notícias de nenhuma providência.

Este pequeno retrato orçamentário mostra claramente o que é prioridade para este governo, e também para os que o antecederam. Primeiro os interesses dos rentistas, banqueiros, especuladores e investidores de títulos do governo. Depois, com o que for possível, buscam atender políticas públicas essenciais como a saúde, como a educação e o saneamento básico, como se isso fosse apenas prestação de serviços e não direito inalienável de toda a população brasileira.

Quando vemos estampado no noticiário o caos da saúde e da educação no país, temos que entender que isso é fruto de uma decisão política de priorizar a dívida financeira em detrimento da dívida social. A tal propalada crise é apenas mais um ingrediente a "pesar nas costas" do trabalhador. Crises sempre ocorreram no histórico do modelo capitalista.
Com este perfil orçamentário não há saída. Sem atacarmos o gargalo da dívida não teremos como avançar de forma significativa em outras áreas essenciais. Ficaremos sempre discutindo um aumento de carga tributária que poderá nos trazer alguma “melhorazinha”.

É matemático, e como disse antes, depende de decisão política.
A Auditoria Cidadã da Dívida, prevista na letra constitucional, se levada a sério, poderia reduzir e eliminar parte desta infame dívida pública. O tema da dívida nunca é devidamente discutido nos meios de comunicação de massa.
Por que será ?

Como explicar, por exemplo, para a população que o Governo Lula herdou uma dívida pública de FHC no valor de R$ 600 bilhões de reais, pagou ao longo de 8 anos de governo R$ 1.300 trilhões só de juros e amortizações e entregou para a sua sucessora, companheira Dilma, um montante de dívida no valor de 1.800 trilhões.

Hoje a Dívida Pública já ultrapassa a casa dos 2.900 trilhões. É ou não é uma verdadeira sangria de recursos públicos. Uma transferência brutal de dinheiro público para o capital privado nacional e internacional.

A desculpa mais comum dada pelos economistas neoliberais é a de que não podemos “quebrar contratos” e que qualquer política econômica que ouse reavaliar este quadro provocaria fuga de capitais e quebradeira geral no país. O Brasil tem hoje a maior taxa de juro real do mundo. É um verdadeiro paraíso para o capital especulativo internacional que conta ainda com condições tributárias privilegiadas. A “crise” reduzirá apenas investimentos produtivos, não de especulação financeira.

A baixa conscientização política e educacional de nossa população permite que os contratos sociais nestas áreas essenciais sejam quebrados todo dia. O fator previdenciário é o maior exemplo de contrato quebrado com o trabalhador nos últimos anos.

Ao final de 2015 todos estes números certamente vão expressar uma situação ainda mais dramática, principalmente para a classe trabalhadora. A fatia destinada aos gastos sociais vem decrescendo de forma quantitativa e qualitativa ao longo dos anos. O crescimento da violência urbana e a exclusão social são os resultados destas equações sombrias.
Esta “bolha” está enchendo há décadas. Um dia ela vai estourar !!


“A diferença entre o Brasil e a República Tcheca é que o governo da República Tcheca fica em Praga e o Brasil tem esta praga de governo.”

Luiz Fernando Verissimo



Cláudio Leitão é economista, graduando em história e membro da executiva municipal do PSOL Cabo Frio.

2 comentários :

  1. Grande texto Leitão. Explicou com palavras simples e de forma resumida uma situação grave da economia do país. Auditoria Já !
    Paulo Campos

    ResponderExcluir
  2. Valeu Paulo. O tema é muito amplo e tem muitos aspectos técnicos, tornando-se assunto difícil para a objetividade de blogs, mas tem que ser colocado de um jeito ou de outro na pauta de discussão das pessoas.

    ResponderExcluir