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Ter, 10 de Novembro de 2009 00:09 |
Maria Lucia Fatorelli /Auditoria Cidadã Apesar de a relação dívida pública/PIB ter caído nos últimos anos, a Auditoria Cidadã frisa que a continuidade da ciranda financeira, mesmo com a crise, é mais uma justificativa para o funcionamento da CPI da Dívida, em andamento no Congresso. Isso porque a desvalorização do dólar provocada pelos juros altos continua incentivando a evasão de divisas.
As remessas de lucro das empresas transnacionais estão subindo rapidamente e atingirão US$ 22,3 bilhões em 2009, conforme estimativa do Banco Central (BC). "É importante ressaltar que esse valor é quase igual à previsão de entrada de investimento direto no país este ano, de US$ 25 bilhões. Ou seja: a entrada de investimento supostamente produtivo no país se traduz em uma futura remessa imensa de lucros ao exterior", destaca economista Maria Lúcia Fatorelli, da Auditoria Cidadã. Nesta entrevista exclusiva ao MM, Maria Lúcia pondera que a dívida, além de consumir 30% do Orçamento, tem prioridade sobre outros gastos: "O que vai para discussão no Congresso é o Orçamento fora a divida. Discute-se quais os cortes que serão feitos para pagar a dívida. Mesmo na crise, o governo divulgou que o superávit primário foi reduzido, mas por que duas medidas provisórias (435 e 450) autorizaram um verdadeiro rapa no caixa em várias rubricas vinculadas legalmente?", indaga. Como a CPI da Dívida foi aprovada no Congresso mesmo sendo tão pouco noticiada? Desde dezembro, como o processo evoluiu? Como vê a atuação da mídia hegemônica no caso? Eles querem fazer manifestação formal de apoio e saber mais detalhes para se posicionarem de acordo com a situação aqui no Brasil. A FLM está presente no mundo inteiro e tem credibilidade reconhecida. Estamos furando o bloqueio da mídia com a participação cidadã através de entidades de capilaridade mundial - no site existe uma lista (www.divida-auditoriacidada.org.br). Há muitas entidades da América Latina e Europa. A redução da relação dívida/PIB significa que esse passivo está sob controle? No passado, esse comprometimento era até maior. Outro aspecto relevante: a dívida é um gasto prioritário. O que vai para discussão no Congresso é o Orçamento fora da divida. Discute-se quais os cortes que serão feitos para pagar a dívida. Mesmo na crise, o governo divulgou que o superávit primário foi reduzido, mas por que duas medidas provisórias (MPs 435 e 450) autorizaram um verdadeiro rapa no caixa em várias rubricas vinculadas legalmente? Um dos setores que foram prejudicado pelas MPs foi a própria administração tributária, que tem um fundo para aparelhar as aduanas (Fundaf), do qual foram retirados R$ 5 bilhões em 2007 e 2008. As pesquisas com o petróleo perderam muito também. Cerca de R$ 20 bilhões foram desviados da pesquisa e da preservação ambiental. Então, o superávit diminuiu porque outros recursos foram destinados para a dívida. Os estados da federação pagam suas dívidas, federalizadas no início do governo Fernando Henrique, para a União, que transfere diretamente para o pagamento da dívida pública. Então, não é somente o dinheiro do superávit que vai para a dívida. E tudo isso amparado por lei, que garante esse privilégio. Até na Constituição foi incluído inciso no texto que diz que a dívida tem de ser paga de maneira prioritária. Não há nenhum artigo que diz ser prioritário não deixar os brasileiros morrerem à mingua. A própria Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) limita vários direitos e não limita gastos com a dívida... Sim. O BC, só no primeiro semestre, teve prejuízo de R$ 96 bilhões. A LRF diz que o prejuízo do BC será integralmente coberto pelo Tesouro. É dinheiro nosso. Quem lucrou foi quem comprou títulos da dívida, principalmente os estrangeiros. E eles estão entrando com dólares, em queda no mundo inteiro. O BC compra tudo e com esse "mico" investe em títulos da dívida norte-americana. Ou seja, financia as políticas deles e quem paga a conta somos nós. Com as recentes quedas na taxa básica de juros (Selic), acabou a ciranda financeira? Esse conjunto de fatores transformou o Brasil em verdadeiro cassino, um porto seguro para a especulação. Só quem ganha com isso vem com o discurso que o problema está ultrapassado. E quem perde? Nossa luta já dura dez anos e vai continuar até o dia em que conseguirmos levar a esse brasileiro que está pagando essa conta caríssima pela subtração dos seus direitos pelo menos o direito de saber que conta é essa. A auditoria só quer saber a verdade. As providências que virão depois são para depois. Não estamos falando de calote. A suspensão do pagamento é apenas uma das decisões que podem ser tomadas. Queremos primeiro investigação e transparência para saber quem assumiu a dívida, quem se beneficiou e onde está a contrapartida. No Equador, ficou provado que dívida contraída com bancos privados decorria de fraudes e juros sobre juros. Por isso, o presidente não precisou recorrer a nenhum tribunal para reconhecer apenas 30% do montante. E 90% do mercado concordaram imediatamente. Só em 2008, a redução do débito já significou aumento de 70% nos gastos com saúde e educação.
Fonte: http://www.monitormercantil.com.br/mostranoticia.php?id=68223 |
"UMA IDEIA TORNA-SE UMA FORÇA MATERIAL QUANDO GANHA AS MASSAS ORGANIZADAS".
Karl Marx
domingo, 15 de novembro de 2009
Investimentos perdem espaço no Orçamento para gastos com juros
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