Estas duas variáveis econômicas deveriam caminhar no sentido de que quando aumenta a primeira, inversamente, diminui a segunda. Este deveria ser o raciocínio lógico, entretanto, pesquisando dados da ONU sobre esta relação no mundo, nota-se uma inversão desta suposta lógica.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas, em 1992, os 20% mais ricos detinham 82% da riqueza mundial. Em 2008, a situação piora e os 11% mais ricos detém 85% de toda a riqueza produzida. Na outra ponta, os 50% mais pobres detém apenas 1% desta riqueza.
O modelo capitalista de produção é altamente eficiente na produção de riquezas, mas também é extremamente injusto na forma de distribuir esta riqueza nos diversos seguimentos produtivos.
Estes dados mostram que o desenvolvimento e o aumento da geração de riquezas numa estrutura capitalista não significam, necessariamente, redução da desigualdade social, pelo contrário, em alguns países, inclusive, gerou aumento da concentração de renda.
Em verdade, o capitalismo é uma insuperável fábrica de gerar pobreza. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina ( CEPAL ) da própria ONU, 185 milhões de pessoas passam fome em toda a América Latina. São dados alarmantes
Numa sociedade capitalista o grau de pobreza é medido pela falta de capacidade de consumo, mas acredito que pobreza não é apenas perder o poder de compra, é também, não ter políticas públicas de saúde e educação adequadas, é não ter emprego, não ter água e esgoto encanados, não ter acesso à cultura, transporte e políticas firmes da área de habitação. Não ter um teto é não ter esperança.
A nossa nova presidente, “companheira” Dilma, em seu discurso de posse, prometeu erradicar a pobreza extrema neste país. Somos hoje a 7º economia do mundo e a 3º pior distribuição de renda do planeta.
Ao longo dos últimos 60 anos, o país experimentou vários ciclos de desenvolvimento, mas não conseguiu reduzir de forma significativa o fosso social entre ricos e pobres. O governo Lula conseguiu tímidos avanços na redução da pobreza, mas são resultados muito abaixo das nossas possibilidades, e que de certa forma foram turbinados pela grande capacidade de marketing do nosso ex-presidente.
O atual salário mínimo brasileiro ( R$ 545,00 ), cerca de U$ 330,00 dólares é menor que o argentino ( isso dói ), o paraguaio e o equatoriano, isso para ficarmos apenas na América Latina.
O festejado “Bolsa Família”, pérola do assistencialismo dos governos FHC, Lula e Dilma, representa, atualmente, 0,4% do PIB, enquanto a dívida pública representa 44% do Produto Interno Bruto.
Em 2011, o governo pretende gastar cerca de 15 bilhões com o “Bolsa Família” e cerca de 280 bilhões ( pagamento dos encargos e juros da dívida pública ) com o “Bolsa Banqueiro”.
O Brasil é apenas mais um país dentro deste contexto. Num futuro próximo esta “bolha “ vai explodir e será necessário pensar e definir um novo modelo de desenvolvimento que não contenha as contradições do capitalismo, que já dura mais de 500 anos.
Antes de terminar, quero dizer que não defendo o “socialismo” que retrata o antigo modelo soviético de Stalin, nem o chinês de Mao, nem o cubano de Fidel, nem o do coreano Jong e outros similares, que resultaram em experiências socialistas fracassadas por lideranças que degeneraram o verdadeiro sentido de um socialismo libertário.
As idéias de Marx, Engels, Rosa Luxemburgo, Lênin, Trotsky, Gramsci, Eric Hobsbawm e outros, continuam atuais. Os economistas neoliberais nunca leram tanto Marx. Precisamos adaptá-las e reinventa-las dentro deste novo tempo, e assim permitir a continuidade do sonho e da utopia de um novo mundo.
“Se o capitalismo é incapaz de satisfazer as reivindicações que surgem infalivelmente dos males que ele mesmo engendrou, então que morra !”
Leon Trotsky
Cláudio Leitão é economista, propagandista, dirigente sindical e presidente do diretório municipal do PSOL em Cabo Frio.
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