quarta-feira, 27 de julho de 2011

FRASE DA SEMANA

"Não roube! O Governo não gosta de concorrência."
Autor Desconhecido

Aumentam as brechas para a esquerda na situação política

Por Roberto Robaina

Depois de 50 anos de ciclos econômicos em que a curva do capitalismo foi de ascensão, entramos num período novo, de tendência declinante. Um verdadeiro giro na situação mundial que marcará profundamente os EUA e a Europa. A luta de classes na Europa não será a mesma: o que vimos na Espanha, antes na Grécia, é apenas o início de conflitos maiores.

A repercussão da crise é mundial: a revolução árabe mostra isso. Levantes de massas na Tunísia, no Egito, na Líbia, Yemem, Síria. Esta se combinando a indignação contra a crise econômica com a consciência democrática que cresce no mundo. Esta consciência é herdeira de lutas seculares, mas diretamente da queda do muro de Berlim, mostrando como foi importante a derrota do stalinismo.

O Brasil é um país que no meio da crise aparece como um lugar de investimento capitalista. Nos próximos anos a tendência é que o Brasil cresça, mas as contradições irão se acumulando: inflação, quando não a inflação os gargalos de infraestrutura, e sempre a pobreza, a violência e a péssima distribuição da renda. A prova de que não há por parte do capitalismo brasileiro nenhuma possibilidade de vida melhor é o programa de sair da extrema pobreza: uma família de 5 pessoas com a renda de mais 350 reais já não é considerada extremamente pobre.

O Brasil viveu ao longo dos últimos 30 anos um processo de luta e conscientização democrática e social. O PT foi à expressão disso. Ao mesmo tempo, a falta de alternativa socialista em nível mundial e a reestruturação produtiva dos anos 90, combinada com a política reformista da direção petista empurrou o PT para o lado do capital. O PT hoje tem seus dirigentes vinculados com fundos de pensão, assessorando empresas, ligados aos interesses do capital. E são os que garantem a paz social dos projetos capitalistas.

Conseguiu isso mantendo o apoio eleitoral da maioria da população. A oposição burguesa é tão ruim que o povo prefere o PT, sobretudo ao Lula, que foi quem elegeu Dilma. Por sua vez o Psol é ainda incipiente, não aparece como alternativa. E é preciso que se diga que já nas duas eleições presidências uma parte do povo buscou uma alternativa que não fosse nem o PT, o novo partido da burguesia, nem os partidos tradicionais da burguesia, no caso o PSDB. Por isso, em 2006, 7 milhões votaram em Heloísa Helena e, em 2010, parte dos 20 milhões que votaram em Marina expressaram a mesma busca, além, é claro, dos conscientes e combativos votantes de Plínio.

Ao mesmo tempo, aumenta em milhões de pessoas o descrédito com a política e com os políticos. Por fim sabemos que o PT, além de ter conquistado o governo federal pela terceira vez, tem a cartada de Lula como candidato em 2014. Mas até lá falta um bom tempo. O certo é que o governo de Dilma em seis meses tem se enfraquecido, e alguns dos seus aliados estaduais, como Sérgio Cabral, viram sua base de apoio se evaporar em dias com políticas desastrosas – expressão de alto grau de estupidez política - tal como a por ele levada adiante no episódio dos bombeiros.

Em meio ano de governo o desgaste foi grande. O governo está paralisado. Tivemos o caso do Palocci, cujo dinheiro oriundo da política foi para o seu próprio bolso. Neste momento mais uma vez o PMDB cresceu no interior do governo. Depois a crise do ministério dos transportes. Enfim, a pauta governamental é negativa, e sempre a serviço dos ricos e poderosos. É o caso da política do governo de capitulação aos latifundiários na questão do código florestal.

Embora ainda seja a burguesia que tenha a iniciativa política, o movimento de massas começa a dar sinal de que está vivo e pode crescer: caso dos bombeiros, os 20 mil nas ruas de Belém contra a corrupção, as marchas juvenis pela liberdade, algumas importantes greves de professores em vários estados, além de greves metalúrgicas e na construção civil; soma-se a isso a crise de governos em importantes cidades, como é o caso de Campinas, a segunda cidade do estado de SP.

O fato é que há espaço para o PSOL atuar: foi o que corretamente se fez contra o fascista Bolsonaro, assim como também foi o PSOL, neste caso junto com Marina, o contraponto contra o desmonte do código florestal. Temos que seguir firmes atuando. Quanto mais esta intervenção seja uma articulação das direções nacional e regionais do PSOL tanto melhor. Foi como atuamos na greve dos municipários em Porto Alegre, com nossos militantes, mesmo os que não eram da categoria, colaborando nos piquetes, com panfletos do partido e com apoio aos nossos dirigentes da luta. Como fizemos em Tramandaí, no litoral do Rio Grande do Sul, onde o partido ajudou os trabalhadores da prefeitura a conquistarem seu sindicato. E como estamos fazendo neste instante, apoiando, junto com o PSTU, a chapa de oposição dos metalúrgicos de Canoas. Também no movimento estudantil, aqui pelo Rio Grande do Sul, temos sido vanguarda da luta nas federais e apoiando ativamente os estudantes da PUC para recuperar seu DCE. Este deve ser um alerta para todo o PSOL: o partido tem condições de um importante crescimento entre os estudantes. O Congresso da UNE que terminou no último final de semana em Goiânia mostra isso. Nele o PSOL tinha cerca de 1000 ativistas identificado com o partido. Podemos claramente afirmar que o PT está cada vez mais sem lugar na juventude. E o PC do B está com muito menor capacidade e possibilidade de manobra, por mais que mantenha o controle do aparato da entidade.

Ao mesmo tempo, desde já nosso partido deve começar a se preparar para as eleições do ano que vem. Teremos pelo menos duas capitais em que o PSOL terá peso de massas e poderá se apresentar como uma alternativa de poder local: a cidade do Rio, se Marcelo Freixo for o candidato, e em Belém, com Edmilson Rodrigues. Em Porto Alegre, onde o PSOL teve 10% das últimas eleições da prefeitura, Luciana Genro se apresentará como candidata a uma vaga na Câmara, junto com nossa vereadora Fernanda e com Pedro Ruas, para que o PSOL siga fazendo a diferença na cidade, sendo o pólo de referência para a construção de uma nova política e uma democracia real. Em todas as cidades do Brasil em que existir o PSOL nossos militantes devem se preparar para esta peleia.

Finalmente, a esquerda deve se manter conectada com as lutas dos trabalhadores no mundo. Ainda há no mundo uma ausência de alternativas. A crise da consciência socialista provocada pela ação tanto do stalinismo quanto da socialdemocracia está longe de ser superada. Mas o capital não está mais na ofensiva ideológica, sim em crise, sem capacidade de oferecer nem de iludir como antes. Os conflitos irão aumentar. E temos atualmente um ponto muito a favor: a consciência democrática no mundo aumentou. Não são simples os golpes militares, as ditaduras, as intervenções armadas. Os EUA têm sua força diminuída, estão saindo do Afeganistão e do Iraque derrotados. As ditaduras aliadas árabes perderam terreno. O aliado Israel se debilita. A ideia de que são as pessoas, os cidadãos, os trabalhadores, os que devem decidir aumenta. Os meios de comunicação como a internet ajudam neste sentido. Esta luta chegará a países como a China, hoje principal sustentáculo da produção do capital.

No Brasil, além de lutas por salário, por emprego, por saúde, temos que seguir desenvolvendo esta consciência democrática. Ele é fundamental para se avançar e para se derrotar tentativas de retrocesso. Esta consciência de que é o povo, de que são os trabalhadores os que devem decidir é o ponto mais importante e atual de nosso programa.

A APROPRIAÇÃO DO PÚBLICO PELO PRIVADO

O recente episódio da privatização do estacionamento em Cabo Frio é mais um exemplo do que ocorre em todo o país, com pouco questionamento por parte da sociedade : a privatização do espaço público. A privatização das estradas, através do regime de concessão é o caso mais claro desta prática, onde o lucro é privatizado e o prejuízo é socializado. Pagamos vários impostos, IPVA, impostos embutidos nos combustíveis, etc, todos com a destinação de permitir a construção e manutenção das estradas, entretanto, dentro da lógica capitalista eles nos fazem pagar absurdos pedágios, que inclusive, ferem a Constituição Federal. O Ministério do Transporte e o DINIT são órgãos contaminados pela corrupção, conforme nos mostrou as mais variadas matérias recentemente publicadas na mídia nacional.
Aqui em Cabo Frio, para implantarem esta “sacanagem”, convocaram a Câmara de Vereadores no dia 18 de janeiro, em pleno recesso, que aprovou em sessão extraordinária, não só o projeto de lei que regulamenta a cobrança, como também os pareceres das comissões legislativas. Exemplo maior de subalternidade da Câmara ao Executivo não pode haver. Nenhuma discussão, nem por parte da oposição, que agora se arvora em defensora da sociedade.
A empresa privada fica com 95% da receita e a Prefeitura com apenas 5%. Estupraram o interesse público !!!!!!
A pergunta que não quer calar é : Quem ganhou com esta medida?
Quais interesses estão escondidos por trás deste embuste com a população?
A sociedade está cobrando as respostas. O Governo e a Câmara até agora não responderam de forma convincente. Chororô e medidas paliativas para reduzir valores não é o que a população quer ouvir.
Quem foi o “pai da idéia”. Filho feio não tem pai.
Já haviam privatizado a saúde, através do sucateamento da saúde pública municipal. O mesmo grupo que comanda a saúde pública ganha “rios de dinheiro” com a saúde privada. Comete-se todo o tipo de barbaridade contra os mais carentes, sob o silêncio de quem deveria fiscalizar.
Os veículos e várias máquinas utilizados pela Prefeitura são terceirizados com valores superfaturados, representando uma privatização disfarçada.
O mesmo ocorre com vários imóveis de pessoas ligadas ao poder.
A próxima privatização anunciada em nosso município é a da merenda escolar. Vem mais mutreta por aí.
A cidade sofre da “´síndrome da obscuridade”. Nada é transparente. Nem o site da transparência, fruto de lei federal, funciona adequadamente. As negociações políticas visando às próximas eleições estão num clima de vale tudo. Não se discute programas e projetos. As negociações tratam de cargos e verbas, inclusive, com suspeita de utilização de dinheiro público.
O que se pode esperar de um modelo econômico onde o Governo Federal, principal arrecadador de impostos, compromete 45% do seu Orçamento para pagar juros da Dívida Pública, em detrimento de políticas públicas essenciais na saúde, educação, saneamento e habitação popular.
No plano municipal, vemos concentração de renda, aumento da desigualdade social, falta de uma política clara de geração de emprego e descaso com a saúde e educação.
Depois, ainda dizem que nós somos críticos radicais, que não fazemos alianças políticas e que temos idéias atrasadas. Não temos a pretensão de sermos vestais, donos da verdade e nem somos ingênuos na luta política, mas digo e repito : Para ganhar com “eles” preferimos perder sozinhos. Um mandato em nossa referência política tem que estar a serviço de um projeto de mudança que possa romper com estas práticas e este modelo de gerir os recursos públicos. Restabelecer a prioridade do coletivo sobre o interesse individual de poucos. Não permitir que o público possa ser privatizado para deleite e enriquecimento de pessoas que deveriam estar “em cana” se existisse um Judiciário sério e efetivo neste país.

“Maior do que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado”.

Rui Barbosa




Cláudio Leitão é economista, propagandista, dirigente sindical e presidente do diretório municipal do PSOL em Cabo Frio.

69º Programa Cidadania e Socialismo

FRASE DA SEMANA

“Maior do que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado”.

Rui Barbosa

Cúpula petista, a "esquerda" que a direita gosta

Política
Milton Temer
Sex, 08 de Julho de 2011 16:30

Milton Temer

Começa a ficar evidente, através de fatos que se sucedem em velocidade, o que a traição de Lula ao programa e ao passado oposicionista do PT representou para a esquerda brasileira no seu conjunto. Palocci, Cabral, Nascimento, tudo em menos de seis meses, comprovam que os caminhos escolhidos para a despolitização da política, através do assistencialismo desmobilizador das camadas mais oprimidas, marchou par-e-passo com a guinada da combatividade para o pragmatismo bandido. Com a guinada da representação de classe à submissão à hegemonia das predadoras elites economicas que sempre prometeu combater.

Insisto. Não identifico a cúpula petista, e os apaniguados no aparelho do poder, com a militância e com eleitores não militantes do Partido dos Trabalhadores. Mas responsabilizo as lideranças - tanto nas estruturas da legenda quanto nas instituições da sociedade civil organizada -, como responsáveis pela malfeitoria que hoje entrega à direita mais reacionária e tradicionalmente corrupta de nossa história republicana a possibilidade de se travestir em vestal; em protetora da coisa pública.

Dilma, criatura de Lula, posando ao lado de Cabral, na reinauguração de obra que, in loco, já havia sido inaugurada por Lula, é apenas uma forma de garantir a malfadada aliança com o desqualificado PMDB. Sérgio Cabral, algoz de bombeiros, e de profissionais da saúde e da educação, está enlameada pelas suas relações promíscuas com os empreiteiros à espreita das obras dos megaeventos da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Com os maganos que controlam as burras do Tesouro, e de onde arrancam os recursos para distribuir gorgetas milionárias, financidoras de campanhas dos políticos sem escrúpulos. Políticos que, lá na frente, com manobras de superfaturamento aprovadas, tudo lhes retribuirão, com juros e correção monetária. Posar na foto com Cabral é avalizar essa bandidagem.

Dilma, criatura de Lula, afirmando através de sua capataz Ideli Salvatti que o ministro banido, ora Senador e presidente do PR (partido da República, ou partido dos ratos?), terá participação ativa na escolha do seu sucessor, apenas comprova que a estrutura comprometida, herdada de Lula, se alterará na forma, sem ser modificada na estrutura. E, uma vez mais, abrirá espaço para a direita mais reacionária e tradicionalmente corrupta de nossa história republicana se travestir em vestal; em protetora da coisa pública.

A militância histórica do PT não é responsável por isso. Mas, se continuar tentando convencer aos que nela depositam ainda alguma confiança de que fazem a política possível diante do conjuntura concreta, estará se comprometendo, em cumplicidade, no assassinato da esperança de transformação qualitativa da realidade brasileira. No assassinato das duas décadas de luta heróica contra a dependência externa e a opressão interna do grande capital que marcaram o crescimento qualitativo do partido.

É fundamental não esquecer, diante de exemplos vários da história. O que sobrar disso, para a história, será a imagem da infâmia e da traição de uma geração.

Sexta-feira, 8 de julho de 2011

Milton Temer é jornalista

68º Programa Cidadania e Socialismo

sexta-feira, 8 de julho de 2011

FRASE DA SEMANA

“UM ATÊNTICO COMUNISTA É UM CRISTÃO, EMBORA NÃO SAIBA, E UM AUTÊNTICO CRISTÃO É UM COMUNISTA, EMBORA NÃO QUEIRA.”

Frei Betto

POLITIZAÇÃO E IDEOLOGIA

Está em curso já há bastante tempo dentro do ambiente político, patrocinado pelos partidos e políticos conservadores, com apoio da grande mídia, um processo de despolitização e desideologização das discussões políticas. O objetivo é muito claro. É formar convencimento que política é assim mesmo, só pode atuar colocando “a mão na merda” e que a questão ética precisa ser flexibilizada para que as coisas possam acontecer. Que políticos são todos iguais e que partidos políticos representam a mesma coisa. Que acabou esta história de direita e esquerda, e quem atua politicamente com ideologia e causa é lunático, utópico e atrasado.
Querem enfiar por osmose em nossas mentes que o capitalismo triunfou, que a “onda boa” agora é ser neoliberal e competitivo ao extremo, senão não tem lugar no mundo de hoje. Que não existe outro modelo de sociedade a ser pensado. Só falta ressuscitar o Fukuyama e decretar novamente o “ Fim da História”.
Se tudo isso está certo e os nossos governantes atuais absorveram tão bem estas teses, pergunto : Por que temos uma educação de péssima qualidade? Por que as pessoas estão morrendo nas filas da saúde pública? Por que o salário pago ao trabalhador continua sendo insuficiente para uma vida digna? Por que o desemprego segue assustando as famílias brasileiras ? Por que os índices de criminalidade são cada vez maiores ? Por que a cada ano aumenta a desigualdade social em nosso país? Por que pagamos cada vez mais impostos sem retorno na forma de políticas públicas? Por que apenas 5 mil famílias brasileiras detêm 45% da riqueza nacional? Por que 44% do orçamento do país têm que ser direcionado para pagar juros desta imoral dívida pública?Por que o meio ambiente anda tão degradado ?
Poderia aqui fazer laudas de perguntas como estas, já que enfrentamos no nosso cotidiano problemas diversos, entretanto, qualquer resposta que for dada não pode ter em seu bojo o sentido de que, infelizmente, é assim mesmo.
Esta conformidade nos faz gado ou ovelha. É preciso discutir com mais profundidade todas estas mazelas que nos impõem as classes dirigentes. Ninguém pode se omitir.
Todos em qualquer grau são impactados por decisões políticas. É evidente que os setores mais populares e mais pobres são muito mais dependentes de políticas públicas para melhorar sua qualidade de vida.
Aqueles segmentos mais esclarecidos, que tiveram a oportunidade de estudar e construir uma formação cidadã tem uma responsabilidade maior na tarefa de não permitir que tudo isso nos seja empurrado goela abaixo.
Ao se iniciar o processo de discussão que também passa pela questão eleitoral constataremos que politização e ideologia terão espaço neste debate. Outro modelo de sociedade precisa ser pensado. Outra forma de gerir os recursos públicos precisa ser implementada. Precisamos reimplantar a questão ética e da transparência dentro do ambiente político. Isso só se faz com mudanças de comportamento, e as vezes, precisa ser feito de forma radical. Quero fazer parte das fileiras daqueles que querem lutar pelas mudanças necessárias.
“ As pessoas tem medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem.”
Chico Buarque de Holanda


Claudio Leitão é economista, propagandista, dirigente sindical e presidente do diretório municipal do PSOL em Cabo Frio.

GERAÇÃO DE EMPREGO E RENDA

Fica claro constatar que neste momento Cabo Frio vive uma séria crise de geração de empregos, certamente, a maior de todos os tempos, tendo em vista, o crescimento populacional da cidade.
A cidade cresce de forma desordenada, sem nenhum planejamento ou políticas públicas voltadas para o ordenamento urbano e social. Temos hoje, um núcleo urbano razoavelmente organizado no “centro” e uma periferia crescente com as pessoas subempregadas ou desempregadas, vivendo de bicos, com habitações deficientes, com poucas perspectivas de um futuro melhor. Cria-se com isso um “caldo de cultura” para o aumento da violência e criminalidade que já começa a ser sentida por toda a cidade.
Percebe-se também que a informalidade é o caminho para aqueles que não encontram abrigo no grande empregador da cidade que é a Prefeitura. É evidente que há exceções em várias áreas.
Este modelo de dependência do poder público foi construído para funcionar assim. Foi pensado para ser um instrumento de dominação política em cima dos trabalhadores não qualificados.
A grande vocação turística de nossa cidade é extremamente mal aproveitada na possibilidade que tem de gerar novos empregos. Hoje, no mundo, o setor terciário, de prestação de serviços é o que mais cresce e oferece oportunidades. Falta uma política clara e efetiva para estimular este setor em nossa cidade. Trabalho profissional e estruturado que precisa da ação conjunta do poder público com os empresários e trabalhadores.
O tal falado Pólo Industrial é uma solução pouco efetiva. O setor primário, industrial, com o advento da informatização e tecnologia, emprega cada vez menor contingente de mão de obra. È um complemento e não a ação principal.
A construção civil é outra alternativa importante, mas faltam cursos profissionalizantes que poderiam ser estimulados pelo poder público. As construtoras trazem profissionais de fora da cidade, dada a dificuldade de contratar aqui, pedreiros, bombeiros hidráulicos, pintores, carpinteiros, etc.
Faltam também cursos e escolas técnicas para o ramo da hotelaria, restaurantes e afins.
O mesmo ocorre com a pesca, importante atividade comercial de outrora, que precisa de novas ações e estímulos.
Precisa-se buscar também, através de grande esforço político, a criação de uma Universidade Pública que possa democratizar o acesso ao ensino universitário e criar novas alternativas para o filho do trabalhador mais pobre.
È necessário também a criação de uma política pública de incentivo ao agricultor e a agricultura familiar para aumentar a produção de alimentos, baratear seu custo e promover geração de emprego e renda na área rural.
O que vimos nos últimos 16 anos foi concreto, asfalto e políticas assistencialistas não emancipadoras da cidadania, incompatíveis com o volume orçamentário que transitou nos cofres públicos desta cidade. A herança de corrupção e roubalheira que ficou está aí sendo esfregada na cara da população. Pessoas que estiveram e estão no poder ostentam para quem quiser ver uma evolução patrimonial que não tem referência nos proventos advindos da função pública.
Todas estas ações citadas não podem ser feitas de “ cima para baixo”, com o Poder Público decidindo sozinho o que é melhor para a cidade. Tem que ter a participação de todos os setores envolvidos para que se possa construir soluções duradouras.
É tarefa urgente em nossa cidade acabar com a brutal concentração de renda e promover políticas de redução desta terrível desigualdade social para desarmar uma grande bomba humana que se forma, cresce e está prestes a explodir na cabeça de todos. Entretanto, para promover as mudanças necessárias devemos ter a coragem e o discernimento para romper com este modelo de gestão e desenvolvimento que “os mesmos” implantaram e querem dar continuidade.

“Tenha em mente que tudo que você aprende na escola é trabalho de muitas gerações. Receba esta herança, honre-a, acrescente a ela, e um dia, deposite-a nas mãos de teus filhos.”

Albert Einstein


Cláudio Leitão é economista, propagandista, dirigente sindical e presidente do diretório municipal do PSOL em Cabo Frio.

sábado, 2 de julho de 2011

FRASE DA SEMANA

"Eu posso não concordar com nenhuma palavra que você disser, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las" - Voltaire

A esquerda orgânica e as manifestações de rua

Internacional
Milton Temer
Sex, 24 de Junho de 2011 11:40

Milton TemerMilton TemerA esquerda mundial tem que tirar consequências do que está ocorrendo na Grécia. O povo assalariado, junto aos setores progressistas da sociedade civil organizada, ocupa as praças diante de um parlamento que não se vexa em se submeter aos ditames da dupla conservadora - Sarkozy e Merkel -, porta-voz da indústria financeira da Europa continental (com o apoio dos reacionários do outro lado do Canal da Mancha).

Esse parlamento não tem maioria de direita. Pelo contrário. É formado uma maioria Pasok - dita socialdemocrata - que derrotou o governo reacionário, responsável por fraudes nas contas públicas, distorcendo dados oficiais, e ocultando dívidas contratadas por segmentos privilegiados do grande capital, com ônus repassados ao setor público.

Essa maioria socialdemocrata, ao invés de denunciar o caráter lesivo dos acordos anteriores, a ele se submete, reproduzindo práticas que outrora necessitavam de golpes militares, torturas e assassinatos de opositores para garantir a privatização do lucro, com a socialização do prejuízo - modelo muito bem definido por Noam Chomsky como "socialismo dos ricos".

Hoje, a BBC informa que, cinicamente, Sarkozy e Merkel chamam o povo grego à "unidade nacional" em torno do garrote vil financeiro que impuseram ao país (http://www.bbc.co.uk/news/business-13902794). Cinismo duplo porque, num primeiro momento, Merkel havia tido uma posição distinta. Saída de uma brutal derrota eleitoral, não queria impor ao eleitorado alemão a participação no sacrifício grego. Operou para que os bancos privados credores se organizassem num processo de alongamento, bancando eles a quota principal do risco em que haviam mergulhado por operações especulativas. Mas qual o quê!? Não durou muito. Bastou o presidente do Deutsche Bank - maior potência germânica - estrilar, para que ela recuasse e se juntasse às bandalheiras de Sarkozy.

O Banco Central Europeu, com o dinheiro dos cidadãos comuns, emprestaria o que a Grécia viesse a necessitar para manter compromissos assumidos, não pelo povo grego, mas pelos cúmplices locais da especulação globalizada, de modo a que os balanços dessas "humanísticas instituições" se mantivessem sanados.

Nesse contexto, e como já havia sido provado na Espanha e em Portugal, a manifestação de rua não tem se mostrado suficientemente eficaz para a rendição dos parlamentos - corrompidos e covardes diante dos poderosos de fora, mas arrogantes diante de seu próprio povo -. Rendição aos interesses da parte majoritária do povo. Da parte que trabalha e produz, que vive de salários, e que não tem nada a ver com as especulações do crime organizado que se deserolam nas bolsas do chamado "livre mercado".

É aí que as forças da esquerda organizada têm que abrir um espaço de reflexão. Têm forças para um processo de insurreição que leve de roldão essas "instituições", como sonhamos nas décadas de 60 e 70 do século passado? Se têm, vale seguir no "que se vayan todos", sem esquecer de trazer uma boa parte das forças armadas, também carcomidas em seus salários, para o seu lado.

Mas, mesmo tendo, não podem abdicar da disputa desses parlamentos. Levando a sério um trabalho permanente de mobilização pol[itico-eleitoral consistente, sem os arroubos generalizados contra os partidos políticos. O "movimentismo", em si, é alvo vulnerável pela fragmentação das demandas corporativas e setoriais que comporta. O partido político, não. Ainda é o único instrumento capaz de universalizar, de politizar, essas demandas. E o partido, por mais classista e revolucionário que se pretenda, tem que aceitar a necessidade de se organizar para a disputa no seio do Estado burguês, se realmente pretende desconstrui-lo. Nessa luta, muitos se acomodam, se vendem e se rendem a esse Estado burguês. Mas nem todos. E quanto mais desses todos conseguirmos colocar nos parlamentos burgueses, mais possibilidades terão de impedir que eles continuem a serviço da burguesia.

Miltonn Temer é jornalista