quarta-feira, 27 de julho de 2011

Cúpula petista, a "esquerda" que a direita gosta

Política
Milton Temer
Sex, 08 de Julho de 2011 16:30

Milton Temer

Começa a ficar evidente, através de fatos que se sucedem em velocidade, o que a traição de Lula ao programa e ao passado oposicionista do PT representou para a esquerda brasileira no seu conjunto. Palocci, Cabral, Nascimento, tudo em menos de seis meses, comprovam que os caminhos escolhidos para a despolitização da política, através do assistencialismo desmobilizador das camadas mais oprimidas, marchou par-e-passo com a guinada da combatividade para o pragmatismo bandido. Com a guinada da representação de classe à submissão à hegemonia das predadoras elites economicas que sempre prometeu combater.

Insisto. Não identifico a cúpula petista, e os apaniguados no aparelho do poder, com a militância e com eleitores não militantes do Partido dos Trabalhadores. Mas responsabilizo as lideranças - tanto nas estruturas da legenda quanto nas instituições da sociedade civil organizada -, como responsáveis pela malfeitoria que hoje entrega à direita mais reacionária e tradicionalmente corrupta de nossa história republicana a possibilidade de se travestir em vestal; em protetora da coisa pública.

Dilma, criatura de Lula, posando ao lado de Cabral, na reinauguração de obra que, in loco, já havia sido inaugurada por Lula, é apenas uma forma de garantir a malfadada aliança com o desqualificado PMDB. Sérgio Cabral, algoz de bombeiros, e de profissionais da saúde e da educação, está enlameada pelas suas relações promíscuas com os empreiteiros à espreita das obras dos megaeventos da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Com os maganos que controlam as burras do Tesouro, e de onde arrancam os recursos para distribuir gorgetas milionárias, financidoras de campanhas dos políticos sem escrúpulos. Políticos que, lá na frente, com manobras de superfaturamento aprovadas, tudo lhes retribuirão, com juros e correção monetária. Posar na foto com Cabral é avalizar essa bandidagem.

Dilma, criatura de Lula, afirmando através de sua capataz Ideli Salvatti que o ministro banido, ora Senador e presidente do PR (partido da República, ou partido dos ratos?), terá participação ativa na escolha do seu sucessor, apenas comprova que a estrutura comprometida, herdada de Lula, se alterará na forma, sem ser modificada na estrutura. E, uma vez mais, abrirá espaço para a direita mais reacionária e tradicionalmente corrupta de nossa história republicana se travestir em vestal; em protetora da coisa pública.

A militância histórica do PT não é responsável por isso. Mas, se continuar tentando convencer aos que nela depositam ainda alguma confiança de que fazem a política possível diante do conjuntura concreta, estará se comprometendo, em cumplicidade, no assassinato da esperança de transformação qualitativa da realidade brasileira. No assassinato das duas décadas de luta heróica contra a dependência externa e a opressão interna do grande capital que marcaram o crescimento qualitativo do partido.

É fundamental não esquecer, diante de exemplos vários da história. O que sobrar disso, para a história, será a imagem da infâmia e da traição de uma geração.

Sexta-feira, 8 de julho de 2011

Milton Temer é jornalista

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