Em 1889, na França, durante a 2º Internacional Socialista, convencionou-se que no dia 1º de maio seria comemorado o dia do trabalhador. A data foi decidida em homenagem a uma manifestação de trabalhadores em Chicago, importante cidade industrial norte-americana, em 1º de maio de 1886, que lutava pela redução da jornada de trabalho. Esta data foi referendada por vários países no mundo, mas estranhamente, nos EUA a data é comemorada em setembro.
Isso é história, mas ao nos aproximarmos de mais um 1º de maio, efetivamente, o que temos a comemorar de novas conquistas para o trabalhador brasileiro. As principais centrais sindicais preparam mega-eventos, as vezes com patrocínio do grande capital, com direito a distribuição de brindes e shows de artistas famosos. Entretenimento, diversão e alienação, sem discutir realmente as possibilidades de conquistas que possam transformar para melhor a vida do cidadão trabalhador.
Será que são motivos de comemoração o aumento arrochado do salário mínimo, o corte de 50 bilhões no orçamento prejudicando programas sociais, a timidez do ajuste da tabela do imposto de renda pessoa física, a manutenção do nefasto fator previdenciário, o aumento das aposentadorias abaixo do índice de inflação, a possibilidade do aumento da idade mínima para aposentadoria, a redução da contribuição patronal para o INSS, o congelamento do salário dos servidores públicos federais, a implantação da alta programada para aqueles trabalhadores que estão entregues ao benefício do seguro saúde do INSS, o aumento da taxa Selic que vai sangrar ainda mais o cofre público aumentando a transferência de renda para os grandes capitalistas, a revolta de milhares de operários nos canteiros do PAC nas usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio pela reivindicação de condições dignas de trabalho, o caos da saúde pública em todo o país que mata trabalhadores pobres, o aumento da violência urbana, a alta das tarifas provocadas pela privatização dos serviços públicos, além de outros episódios que deveriam pautar a agenda das centrais sindicais para mostrar a realidade e conscientizar mais a classe trabalhadora que é cumpridora de seus direitos, mas não recebe a contrapartida que lhe é devida pelo Estado.
Em nosso município, será que os funcionários públicos vão comemorar os 4 anos sem aumento salarial, os 6% prometidos e não pagos, a não devolução de descontos indevidos ao IBASCAF e outros, o vale refeição de RS 6,00, a falta de treinamento e fardamento adequado, as empreiteiras terceirizadas, além de outros fatos.
E os professores, será que vão comemorar o salário indigno que recebem numa cidade privilegiada sob o ponto de vista orçamentário, os constantes adiamentos para não cumprimento do Plano de Cargos e Salários acordado, a falta de condições adequadas na maioria das escolas públicas, a falta de fiscalização dos recursos do FUNDEB, a preferência por contratados em detrimento dos concursados, a falta de diálogo com a secretária de educação, a privatização da merenda escolar, a meritocracia do Cabral, o penúltimo lugar do Estado do Rio de Janeiro na avaliação do IDEB Brasil e 36º lugar do município no Estado, enfim, todos os atos de descaso com o ensino público municipal e estadual.
Sei que muitos trabalhadores irão as festas, comemorar, vibrar, beber e aplaudir pseudo-lideranças sindicais que cresceram politicamente e esqueceram dos eixos político-programáticos que lutavam no passado. Alguns acham que é assim mesmo e que não adianta lutar mais por conquistas definitivas e duradouras.
Sou dirigente sindical, filiado a CONLUTAS, a única central sindical e popular que não se vendeu e não se transformou em correia de transmissão do governo. No dia 1º de maio não vou comemorar e sim reivindicar o que entendo ser nosso direito, além de cobrar os deveres que o Estado, por obrigação constitucional, precisa cumprir com a classe trabalhadora. Não existe vitória sem luta.
“Uma idéia só se torna uma força material quando ganha as massas organizadas.”
Karl Marx
Cláudio Leitão é economista, propagandista, dirigente sindical e presidente do diretório municipal do PSOL em Cabo Frio.
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