quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

POESIA NUMA HORA DESSA !!




O HORROR DE SER POBRE

O horror de ser pobre risco c'um traço
(Um traço fino, sem azedume).
Todos os que conheço, eu mesmo incluído.
Para todos estes não me verão nunca mais olhar com azedume.

O horror de ser pobre!
Muitos gabavam-se que aguentariam,
mas era ver-lhes as caras alguns anos depois!
Cheiros de latrina e papéis de parede podres,
atiravam abaixo homens de peitaça larga como toiros.

As couves aguadas destroem planos que fazem forte um povo.
Sem água de banho, solidão e tabaco nada há que exigir.

O desprezo do público arruÍna o espinhaço.
O pobre nunca está sozinho.
Estão todos sempre a espreitar-lhe pra o quarto.

Abrem-lhe buracos no prato da comida.
Não sabe pra onde há de ir.
O céu é o seu teto, e chove-lhe lá pra dentro.

A Terra enxota-o. O vento não o conhece.
A noite faz dele um aleijado.
O dia deixa-o nu.
Nada é o dinheiro que se tem.
Não salva ninguém, mas nada ajuda quem dinheiro não tem.

Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
Tradução de Paulo Quintela.

Nenhum comentário :

Postar um comentário