sábado, 1 de agosto de 2015

POLITIZAÇÃO E IDEOLOGIA




Está em curso já há bastante tempo dentro do ambiente político, patrocinado pelos partidos e políticos conservadores, com apoio da grande mídia e de setores da extrema direita, um processo de despolitização e desideologização das discussões políticas que encontram eco numa sociedade indignada com a corrupção e que usa de forma simplista e reducionista todos os argumentos que justifiquem aquela generalização clássica: “Na política só tem ladrões”.

O objetivo é formar convencimento que política é assim mesmo, só pode atuar colocando “a mão na merda” e que a questão ética precisa ser flexibilizada para que as coisas possam acontecer. Que políticos são todos iguais e que partidos políticos representam a mesma coisa, ou seja, mistura-se tudo e joga-se numa vala comum. Que acabou esta história de direita e esquerda e quem atua politicamente com ideologia e causa é lunático, utópico e atrasado.

Querem enfiar por osmose em nossas mentes que o capitalismo triunfou, que a “onda boa” agora é ser neoliberal, globalizado e competitivo ao extremo, caso contrário, não tem lugar no mundo de hoje. Que o capital financeiro está acima do capital humano. Que não existe outro modelo de sociedade a ser debatido e pensado. Só falta ressuscitar o Fukuyama e decretar novamente o “Fim da História”.

Se tudo isso está certo e os nossos governantes atuais absorveram tão bem estas teses, pergunto :

Por que as pessoas estão morrendo nas filas da saúde pública?

Por que não temos educação pública de qualidade?

Por que pagamos abusivas tarifas no transporte coletivo?

Por que não temos uma política efetiva de habitação popular e de assentamento dos sem terra no campo?

Por que o salário pago a maioria do trabalhador continua sendo insuficiente para uma vida digna?

Porque em toda crise os ajustes são sempre em cima da classe trabalhadora ?

Por que o desemprego segue assustando as famílias brasileiras ?

Por que os índices de criminalidade são cada vez maiores ?

Por que a cada ano aumenta a desigualdade social e a concentração de renda em nosso país?

Por que pagamos cada vez mais impostos sem retorno na forma de políticas públicas?

Por que apenas 5 mil famílias brasileiras detêm 45% da riqueza nacional?

Por que 45% do orçamento do país têm que ser direcionado para pagar juros desta imoral e ilegal dívida pública?

Por que o meio ambiente anda tão degradado ?

E principalmente, por que milhões de pessoas foram às ruas protestar de forma contundente sobre todos estes desmandos praticados pelo chamado “Poder Constituído”?

Poderia aqui fazer laudas de perguntas como estas, já que enfrentamos no nosso cotidiano problemas diversos, entretanto, qualquer resposta que for dada não pode ter em seu bojo o sentido de que, “infelizmente é assim mesmo” ou “temos que aceitar se não piora”.

Esta conformidade nos faz gado ou ovelha. É preciso discutir com mais profundidade todas estas mazelas que nos impõem as classes dirigentes. Ninguém pode se omitir. Todos em qualquer grau são impactados por decisões políticas. É evidente que os setores mais populares e mais pobres são muito mais dependentes de políticas públicas para melhorar sua qualidade de vida.

Aqueles segmentos mais esclarecidos, que tiveram a oportunidade de estudar e construir uma formação cidadã tem uma responsabilidade maior na tarefa de não permitir que tudo isso nos seja empurrado goela abaixo.
Não há certezas nem verdades prontas, mas outro modelo de sociedade precisa ser pensado. Outra forma de gerir os recursos públicos precisa ser tentada. Precisamos reimplantar a questão ética e da transparência dentro do ambiente político. Não dá para adiar mais esse importante passo.

Como as condições objetivas de uma revolução não estão colocadas, a via institucional, a do voto, é o único caminho para promover tais mudanças. O voto nulo como forma de protesto, salvo raras exceções, não ajuda a mudar esta realidade. Ele nos dá a sensação de “lavar as mãos”, mas não altera o “status quo” e ajuda a manter no poder aqueles que “compram” consciências e votos com o poder do dinheiro. A nossa elite dirigente deixou claro que apesar das mobilizações e manifestações, que seriam também caminhos para a mudança, não quer atender as demandas da sociedade. O compromisso assumido com o grande capital não permite.

Fingiram respeito e compreensão num primeiro momento, mas depois recusaram o diálogo e colocaram nas ruas as forças de repressão para calar a voz e a ação daqueles que queriam mudanças na governabilidade. Como diz o Rappa naquela música, “paz sem voz não é paz, é medo”.

Transformar para melhor o ambiente político é possível, mas só se faz com mudanças de comportamento e com ampla renovação dos quadros políticos, e as vezes, precisa ser feito de forma radical. Há responsabilidades e riscos para serem assumidos, mas não tem outro caminho que possa nos levar a um maior amadurecimento político. O sistema educacional brasileiro não atua da forma que deveria na formação da cidadania e isso é outro desafio a ser enfrentado.

Quero fazer parte das fileiras daqueles que querem lutar pelas mudanças necessárias, correndo os riscos e assumindo as responsabilidades que fazem parte deste processo de transformação social.
Coragem, ousadia, informação e renovação precisam estar na pauta de todas as eleições.

Eu não tenho medo das mudanças. Você tem ?


“As pessoas tem medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem.”
Chico Buarque de Holanda


Claudio Leitão é economista, graduando em história e membro da executiva municipal do PSOL em Cabo Frio.

3 comentários :

  1. Belo texto Leitão, complementa aquele que você escreveu anteriormente que falava nas necessidades de medidas mais radicais.
    Paulo Campos.

    ResponderExcluir
  2. Infelizmente, o povo só sabe reclamar dos políticos mas na hora de mudar repete os votos naqueles de quem elas mais reclamam. A maioria vota por interesse e a política não muda. É por isso que muita gente vota nulo por não acreditar mais no sistema.
    Eduardo.

    ResponderExcluir