PREVIDÊNCIA SOCIAL É DIREITO DA CIDADANIA
Uma intensa campanha tem se repetido no Brasil há quase 30 anos. Foi
criada no início pela direita conservadora e infelizmente teve todo o apoio de “progressistas”
e também de Lula, Dilma e a alta cúpula do PT, outrora partido dos trabalhadores,
durante seus 14 anos de governo.
Dilma, inclusive, chegou a vetar uma medida aprovada pelo Congresso que
amenizava os danos do fator previdenciário: a fórmula de aposentadoria 85/95,
que significa a soma do tempo de trabalho com a idade para mulheres e homens,
respectivamente. O Congresso depois derrubou o veto.
Este foi mais um dos vários atos de traição explícita que o PT praticou contra a classe
trabalhadora na área da previdência social, pois em 2010, no dia da estreia do
Brasil na Copa, nosso ex-presidente operário, Lula da Silva, também vetou o fim
do fator aprovado pelo Congresso.
Importante frisar que o PT foi contra a adoção do fator em 1998,
criação do governo do PSDB de FHC. Chegou a ajuizar uma ação de
inconstitucionalidade no STF contra a medida. Discursos calorosos e raivosos
foram feitos no Congresso por seus deputados e senadores.
Aliás, este foi o fato gerador para a criação do PSOL por dissidências de
parlamentares que não quiseram votar contra os trabalhadores quando o PT
aprofundou essas reformas na previdência taxando os inativos. O PT era contra
fora do poder e de forma canalha e traiçoeira ficou a favor quando governo.
Estes segmentos costumam dizer que a Constituição de 1988 teria criado
obrigações impagáveis e que se torna necessário modificar sua essência
populista e perdulária. Um dos alvos é a Previdência Social e de forma mais
abrangente todo o sistema da Seguridade Social. Políticas elitistas e
privatistas tentam atacar um alargamento dos direitos sociais e da cidadania
que a nossa Carta Magna traz em seu bojo, fruto do sangue, suor, lágrimas e de
muita luta por parte dos trabalhadores.
A Seguridade Social composta de Previdência Social, Assistência Social
e Saúde, têm fontes de financiamento amplas e diversificadas, constituindo-se
no segundo maior orçamento do setor público. O primeiro, infelizmente, é o
pagamento dos juros da dívida pública, uma questão que sempre passa ao largo
das discussões por que não interessa ao “status quo“ desenvolver qualquer
debate. Segue comprometendo praticamente a metade do Orçamento Geral da União,
inviabilizando uma série de políticas públicas essenciais ao país,
principalmente na saúde e na educação.
Estes valores do sistema previdenciário acabam se constituindo em
objeto de cobiça para os representantes do capital financeiro, escondendo lá no
fundo, um desejo de ver a previdência privada crescer sob a falácia de um
suposto déficit da previdência pública. Fato que vem acontecendo ao longo
destas décadas.
A Previdência Social não deve ser analisada isoladamente, e sim, todo o
contexto da Seguridade Social que é seguramente superavitária, já que fontes de
financiamento específicas, que serão detalhadas mais abaixo, foram
estabelecidas para este fim.
A construção do discurso conservador que a Lei Maior criava obstáculos
a administração pública ocorreu com o processo de financeirização da economia
brasileira, a partir das seguidas crises, iniciados nos Governos Sarney e Collor
de Mello. Reformas urgentes na Seguridade Social eram a tônica destes
discursos, fato que ocorre até hoje em pleno governo golpista de Michel Temer.
Processo inflacionário, âncora cambial, taxas de juros elevadas,
liberdade do fluxo de capitais, elevado grau de abertura econômica,
desregulamentação do sistema tributário, déficit no balanço de pagamentos, etc,
todos são problemas menores, segundo a avaliação destes setores. Os ataques à Previdência são sempre limitados
aos aspectos financeiros, contábeis e atuariais, nunca levando em conta o seu
caráter social e distributivo de renda.
O governo neoliberal de FHC foi o ápice destes discursos. Veio a primeira
reforma, criando, inclusive, o fatídico “ fator previdenciário “, um mecanismo
surrupiador de direitos conquistados. Criou-se a DRU – Desvinculação de
Receitas da União, que permitiu ao governo retirar 20% de qualquer imposto ou
contribuição e destinar ao Tesouro Nacional e alocar estes recursos ao bel
prazer do governante. Hoje, o governo ilegítimo de Temer quer aumentar este
percentual para 30%.
PIS/COFINS, a extinta CPMF, CSLL, receitas de prognósticos lotéricos,
dentre outros, que eram fontes de financiamento da Seguridade Social, foram
afetados e tiveram desvios de finalidade, e até hoje, ajudam a bancar o tal
falado superávit primário.
Não tenho e nunca tive a pretensão de ser dono da verdade, apenas luto
para que um tema como este possa ser de mais domínio por parte da população,
principalmente, aquela que é mais afetada por este processo. Precisamos de mais
educação e informação para o debate.
A superação deste modelo econômico exige luta política por parte dos
diversos segmentos da classe trabalhadora. É preciso fortalecer as conquistas
dos movimentos populares do passado. A Constituição de 1988 e seu mecanismo de
Seguridade Social são partes desta vitória. Previdência Social é um direito da
cidadania e não prestação de serviços.
Depois ainda dizem que não existem direita e esquerda na política e que
acabou a luta de classes. Esta luta está
mais viva do que nunca !!
“A história da sociedade até os nossos dias é a história da luta de
classes.”
Karl Marx
Cláudio Leitão é economista, professor de história e membro da
executiva municipal do PSOL em Cabo Frio.
Ótimo artigo Leitão, abordou muito bem esse olhar privatista e neoliberal que esses políticos vendidos ao capital tem da previdência social. Querem desacreditar para reduzir direitos e depois privatizar.
ResponderExcluirPaulo Campos.
Valeu meu caro, minha intenção é estimular o debate sobre o tema para que as pessoas busquem mais informações e não fique apenas naquele papo de "rombo da previdência" que a grande mídia despeja como verdade absoluta.
ExcluirAbraço.