HOMENAGEM AO DIA DAS MÃES - MÁTRIA E PÁTRIA

Pátria é construção histórica da qual somos filhos e, ao mesmo tempo, pais.
Mátria é construção biológica, que nos gera, e afetiva, que nos acolhe, arca e cerca. Pátria e mátria, palavras que se entrecruzam em narrativas da vida real, como a da mãe Fabiane Maria de Jesus, linchada no Guarujá (SP) pela estupidez da pseudo-justiça filha da injustiça generalizada. Ou como a de Cláudia Silva Ferreira, arrastada e morta em Madureira (RJ), por quem devia protegê-la. A pátria chamada Brasil tem sacrificado muitas mães. Seus filhos por elas chorarão, nesse domingo, e isso nos diz respeito.

Mães são mátria e pátria, mas também querem sempre ser frátria, espaço comum, de igualdade, onde nos reconhecemos enquanto coletividade, que reverbera nossa identidade.
Mães moram também na saudade e se chamam Nina, Conceição, Judith, Célia, tantas Marias. Podemos não ter reis e leis para impedirem a partida de nossas mães, como queria Drummond, mas temos os laços inquebrantáveis da nossa pátria materna, da nossa mátria que se faz presente como um eterno retorno para casa:

"Mãe não tem limite, / é tempo sem hora, / luz que não apaga/ quando sopra o vento/ e chuva desaba (...) / água pura, ar puro, / puro pensamento."

Carregamos para sempre os sentimentos e a afetividade que nos ligam a nossas mães. No contato da primeira infância, são elas que nos ensinam os primeiros espaços de interação, que realizam e consolidam nossas dimensões afetivas, sociais e culturais.

São porto-seguro como uma pátria, localidade para a qual podemos retornar para reconhecer as marcas de nossa formação, de nossa história. É pátria, mas que se faz mátria, nossa língua mãe, que com gestos, cores e tons, criam, em nós, um jeito específico de ser.

Feliz dia das mães!


Chico Alencar é Professor de História e Deputado Federal pelo PSOL-RJ.