quinta-feira, 14 de maio de 2015

POESIA NUMA HORA DESSA !!





O Horror de ser Pobre

Risco com um traço
Um traço fino, sem azedume
Todos os que conheço, eu mesmo incluído.
Para todos estes não me verão
Nunca mais olhar com azedume.

O horror de ser pobre
Muitos gabavam-se que aguentariam,
mas era ver--lhes as caras alguns anos depois!
Cheiros de latrina e papéis de parede podres
Atiravam abaixo homens de peitaça larga como toiros.
As couves aguadas destroem planos que fazem forte um povo.

Sem água de banho, solidão e tabaco
Nada há que exigir.
O desprezo do público arruína o espinhaço.
O pobre nunca está sozinho.
Estão todos sempre a espreitar-lhe pra o quarto.

Abrem-lhe buracos no prato da comida.
Não sabe pra onde há-de ir.
O céu é o seu teto e chove-lhe lá pra dentro.
A Terra enxota-o.
O vento não o conhece.

A noite faz dele um aleijado.
O dia deixa-o nu.
Nada é o dinheiro que se tem.
Não salva ninguém.
Mas nada ajuda quem dinheiro não tem.

Bertolt Brecht

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