domingo, 10 de novembro de 2013

SÓ ENRIQUECE NA POLÍTICA QUEM É LADRÃO




Rotineiramente, a população ao acordar e ver no noticiário das manhãs das TV’s e Rádios novos casos de incríveis safadezas com o dinheiro público, como este tenebroso caso de corrupção dos auditores fiscais da Prefeitura de São Paulo, sai de casa para o trabalho com um sentimento de indignação, misturado muitas vezes com um sentimento de impotência, imaginando e pensando o que fazer para mudar este quadro.
Uma parte destas pessoas, porém, de certa forma já saem anestesiadas, sem se importar muito, imaginando que como boa parte destes crimes são cometidos por ladrões engravatados, na maioria das vezes agentes políticos das mais diversas esferas de poder, os casos ficarão impunes ou empurrados “justiça abaixo” através das “chicanas processuais” promovidas pelos seus respectivos advogados, também muito ricos e caros. O recente caso do Mensalão, onde os Embargos Infringentes foram acatados pela maioria do STF, criando novas protelações ao julgamento, comprova de forma clara esta tese.
Os casos espantam tanto pelo montante de dinheiro envolvido quanto pela “cara de pau” e mau caratismo explícito.
Roubar dinheiro público, prejudicar principalmente as pessoas humildes, já submetidas a todas as formas de negação dos seus direitos mais elementares, como educação, saúde, moradia decente, saneamento e assistência social tem que nos causar profunda tristeza e extrema indignação.
Neste momento, penso naqueles mais pobres que são presos por roubar uma lata de leite ou uma fruta no supermercado e são jogados em celas subhumanas que acabam depois, sendo violentados e arrastados pelas mazelas do sistema prisional brasileiro, que não recebe de maneira nenhuma ladrões de “hierarquia superior”.
Os nossos magistrados, homens letrados nas leis, respaldam quase sempre este comportamento cínico de punição ao “andar de baixo” e covardemente são complacentes em seus rigores metodológicos do direito na hora de julgar a patifaria dos ladrões de gravata que convivem com eles no “andar de cima”.
A justiça brasileira é segregacionista, cara e elitista.
Até quando a sociedade brasileira vai tolerar este quadro dantesco?
Quantos serão capazes de verbalizar sua indignação e buscar o enfretamento com estas estruturas corrompidas de poder?
Até quando estas gangues políticas vão conjugar o verbo roubar de todas as formas possíveis, e mesmo assim, vão continuar sendo eleitas para mandatos sucessivos com a cumplicidade de grande parte dos eleitores que aceitam esta vilania de forma passiva e natural?
Até quando vamos assistir a este triste espetáculo político, sem nenhuma reação, achando que é impossível mudar esta dramática realidade que hoje esta nos impactando, mas que se nada for feito, inviabilizará o futuro dos nossos filhos e netos?
Um vereador recebe mensalmente, dependendo do tamanho da cidade, entre 6 e 15 mil reais, um prefeito, entre 12 e 23 mil reais, deputados estaduais e federais, entre 15 e 26 mil reais. Governador e Presidente, também perto disso. Salários dignos que permitem aos políticos uma vida confortável, mas pela lógica formal, fiscal, financeira e contábil não permite enriquecer ninguém, salvo os herdeiros e empresários que já entram ricos na política e podem disfarçar melhor o aumento patrimonial.
Mas o que vemos com mais freqüência são pessoas das camadas mais populares e até da classe média, encontrando na atividade política um trampolim para roubar descaradamente o erário público e afrontar a sociedade com uma evolução patrimonial inteiramente incompatível com a renda auferida, proveniente dos vencimentos da atuação política. Qualquer semelhança com Cabo frio não é mera coincidência.
Só enriquece na política quem é ladrão.
Tenho certeza que quem lê este artigo conhece pelo menos um político com este perfil. Alguns, como dito anteriormente, votam nele com uma estranha naturalidade passiva, provocada pela inocência de propósitos, ignorância política ou o que é pior, pela desprezível cumplicidade com que grande parte da sociedade encara a corrupção em nossa cidade, em nosso estado e em nosso país.
Sei que muitos me chamarão de radical por escrever este pequeno texto, mas acredito que já passou da hora de fazermos a nossa parte para mudar esta realidade implacável. O voto e o processo eleitoral são importantes, mas não os únicos meios de lutarmos por mudança e retirarmos do poder verdadeiras quadrilhas instaladas nas mais altas esferas. Cada cidadão de bem sabe que pode fazer um pouco mais, socializando informações aos desavisados, participando mais ativamente da ação política, independente de partido, como também através das mais diversas formas de participação comunitária e popular.
Gramsci já dizia no século passado : “Devemos opor ao pessimismo da razão o otimismo da vontade”.
É preciso continuar buscando alternativas que possam levar a outra forma de organizar a sociedade. Precisamos discutir projetos e não apenas nomes. Informação e conscientização política são fundamentais.
Até quando vamos permitir que esses salafrários nos roubem a esperança de um futuro melhor?
A resposta tem estar dentro de cada um de nós.

“Pobreza não é uma escolha do indivíduo e nem uma condenação divina. É o resultado de escolhas sociais.”
Herber Gans


Cláudio Leitão é economista e membro da executiva municipal do PSOL em Cabo Frio.

Um comentário :

  1. Máxima do Barão de Itararé, o velho Aparício Torelly:

    "No Brasil, ficar rico roubando é difícil. Mas sem roubar é impossível!".

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