terça-feira, 10 de junho de 2014

O PT E A ESQUERDA BRASILEIRA




O PT E A ESQUERDA BRASILEIRA

É uma afirmação correta que os três partidos de esquerda do país, PSOL, PCB e PSTU, têm pouca expressão eleitoral e não conseguem articular uma frente única, criando uma alternativa ao atual quadro político. Mas é errada a afirmação que eles ajudam a extrema direita a derrubar ou atrapalhar Dilma. É um argumento que não tem nenhum fundamento.

Primeiro, porque esta extrema direita é pequena e não tem força política suficiente para isso. Faz apenas barulho e só ecoa em nichos específicos. A tal “Marcha pela Família” promovida por estes setores recentemente, que foi um fiasco de público e adesão, mostrou que eles não tem nenhuma força política. Apenas gritam e se manifestam de forma agressiva nas redes sociais.
Se os partidos pequenos de esquerda tem baixa votação como podem atrapalhar o PT eleitoralmente?
Esta é mais uma contradição presente nestes argumentos.

Segundo, porque a maior parte da direita brasileira já está no governo desde 2003, no primeiro mandato de Lula. Ela não está apenas na base de apoio, está mandando e desmandando no governo, comandando ministérios de porteira fechada. Sarney, Maluf, Collor, Renan, Barbalho, Jucá, PSC, PRB, PP e demais partidos de direita fazem parte desta “coalizão difusa” que sustenta esta governabilidade viciada em bases fisiológicas que a toda hora fazem explodir escândalos, maculando uma imagem ética que o PT levou 20 anos para construir. A menor parte da direita brasileira está no DEM e PSDB, sem projeto e sem discurso.

Terceiro, porque o PT não pratica um governo de esquerda, muito pelo contrário, deu continuidade ao projeto neoliberal de FHC, sem fazer nenhuma reforma estrutural no país. Manteve inclusive a política macro-econômica anterior, baseada nos pilares de controle das metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário.
Pratica uma política de privatização ou concessões, como preferem os petistas, muito próximas com o projeto FHC. Nenhum tratamento diferenciado com a dívida pública que continua consumindo a metade do orçamento do país. Manteve a reforma da previdência realizada por FHC, que o PT era contra na época, chegando a entrar na justiça para anulá-la, e manteve o famigerado fator previdenciário, a maior rapinagem já feita com o trabalhador brasileiro, que Lula teve chance de acabar, mas vetou o fim da medida aprovada por este mesmo congresso conservador que a criou anteriormente. Esta talvez seja a maior traição de classe de um partido que se diz dos trabalhadores, num gesto de submissão inconteste ao grande capital.

Conseguiu avanços revelados pelos dados estatísticos, aumentando verbas orçamentárias para as políticas compensatórias, próprias da social democracia, mas sem romper com os interesses do grande capital, principalmente, bancos, empreiteiras e o agronegócio exportador. Não por acaso, são os maiores doadores das campanhas eleitorais do PT hoje. O PT se complicou sozinho querendo agir dentro do “modus operandi” da pequena política como estes partidos conservadores da velha ordem sempre fizeram.

Estas políticas compensatórias, Bolsa Família, Prouni, Fies, crédito popular, etc, fizeram um processo de inclusão social maior e aumentou a capacidade de consumo e de satisfação das classes C e D, mantendo aquecido o mercado interno, que de fato, nos ajudou num momento de crise mundial.
Concordo que o PT tem uma base social diferente do PSDB, mas preferiu um caminho pragmático para a manutenção do poder, sem enfrentar de forma mais corajosa os desafios para fazer o país avançar com mais rapidez em áreas estratégicas, como a saúde, a educação, a habitação popular, a questão agrária, segurança pública, transportes, etc... Fez um governo melhor do que o PSDB, mas não era difícil alcançar este objetivo, tendo em vista o legado deixado.

Numa democracia de massas como a nossa, com grande crise de identidade e representatividade, onde impera o poder econômico nas eleições, é compreensível que partidos como PSOL, PCB e PSTU, que não aceitam doações destes segmentos empresariais em suas campanhas, tenham votações baixas. Este é o principal fator das pequenas votações, pois existem ótimos quadros em suas estruturas, mas que fazem um enfrentamento desigual sob esta ótica e modelo eleitoral.
Infelizmente, nesta atual conjuntura, o poder econômico faz a diferença entre quem vai ganhar e quem vai perder, principalmente nos cargos ligados ao executivo, salvo exceções aqui e ali. Não é a toa que os “ditos principais candidatos” a presidência da República esperam gastar cerca de 500 milhões na campanha. Vivemos sob a égide da “mercantilização do voto”.

Existe, de fato, uma real dificuldade dos partidos de esquerda de dialogarem com as massas, cuja maioria foi aculturada nestes conceitos da velha política, do toma lá, da cá. É preciso reformular o discurso e ressignificar o ideário socialista, adaptando-o aos novos tempos e aos novos desafios do Sec. XXI.
Como dizer a esta grande massa que as demandas defendidas pelos partidos de esquerda são as suas demandas? Se quem milita num partido de esquerda em sua grande maioria são trabalhadores que fazem parte desta mesma massa? Como explicar e desatar este nó?

E aí está o grande desafio da esquerda brasileira.

“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.”
Karl Marx

Claudio Leitão é economista e membro da executiva municipal do PSOL Cabo Frio.

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