quarta-feira, 9 de julho de 2014

OLHO NO VOTO !!




Este quadro de doação das empreiteiras para os partidos políticos está diretamente proporcional ao número de deputados e senadores que compõem a bancada de cada partido no Congresso Nacional e ajuda a explicar como se constrói estas maiorias. Numa democracia de massas como a nossa, comprada e controlada pelo grande capital, principalmente de bancos e empreiteiras, quanto mais o candidato tem para gastar, maior sua possibilidade de eleição. Isto também explica a hegemonia destes partidos mais bem aquinhoados pelas doações nas eleições para os cargos executivos de prefeito, governador e presidente.

Estes dados são reveladores do caráter mercantilista de nossa democracia, que é mais democrática para uns poucos do que para "uns muitos", que se traduz na campanha eleitoral e consequentemente na vitória dos candidatos de maior poder econômico. O eleitor, em sua maioria, com deficiência de formação escolar, de cidadania e de consciência política, tende a achar que "candidato forte" é o candidato que faz uma campanha milionária e de grande visibilidade pública. Ele pensa que o seu voto disputa uma "espécie de campeonato" e quer votar num candidato vencedor, embora sem saber se aquele candidato vai defender suas demandas num cargo legislativo ou executivo.

Quem nunca ouviu a expressão: "Ele é um bom candidato, mas não vai ganhar e eu neste caso vou jogar meu voto fora". Nada mais despolitizante, simplista e equivocado.
É evidente que o processo da conquista do voto envolve também outras múltiplas variáveis, o que explica a vitória esparsa de candidatos que fazem campanhas franciscanas, com poucos recursos e conseguem se eleger, mesmo contra estas poderosas forças dominantes.
Mas de uma maneira geral, a força do poder econômico se torna determinante, aliada aos acordos espúrios, aqueles do "vale tudo", que une partidos de projetos e propostas até antagônicas, que faz adversários políticos virarem aliados de ocasião, principalmente em busca de aumentar o tempo de TV, já que a maior exposição na mídia, principalmente a televisiva, ajuda a massificar ainda mais o nome destas candidaturas.

O resultado final disso tudo é que os eleitos que compõem a estrutura institucional chamada "ESTADO", ficam reféns destas elites financeiras que compram seus mandatos e comandam as prioridades que são definidas em termos orçamentários para o país.
Por isso, temos hoje um comprometimento de metade do Orçamento Geral da União(este ano 44%) para pagar juros e amortização da dívida pública(favorecendo os bancos e o sistema financeiro) e os investimentos em obras de infraestrutura feitos de forma superfaturada(beneficiando as empreiteiras doadoras). Uma lógica simples, clara e cristalina.

O que sobra do orçamento, "migalhas percentuais", são destinadas a atender as demandas destes eleitores na forma de políticas públicas, sempre de forma deficiente e com valores de investimentos que não atendem nem de perto as suas necessidades. Os recursos do orçamento são finitos, um "cobertor curto", portanto, não atende a todas as necessidades do país. Quem pagou e comprou mandatos lá atrás, na eleição, define e escolhe as prioridades na frente.
Isto explica, os 3,9% para a educação pública, os 4,1% para a saúde pública, os 0,08% para o saneamento, os 1,5% para habitação popular, e outras destinações mínimas e insuficientes para atender o grosso das demandas da população "dominada".

O modelo revela uma incoerência clara, onde a maioria prejudicada, elege uma minoria bancada financeiramente por esta elite dominante para ser oprimida pela estrutura chamada de "ESTADO", que deveria ser criada para atender os interesses da maioria, mas pela ação destas forças hegemônicas, acabam dominando e controlando o "ESTADO", abocanhando a maior parte dos seus recursos, gerados por um injusto modelo de arrecadação tributária, que tributa proporcionalmente os mais pobres e oferece privilégios tributários aos mais ricos.

Como resolver isso pela via institucional, via do voto popular?
Como conscientizar milhares de trabalhadores que não adianta votar em empresários ricos para representá-los nos parlamentos ou num cargo executivo, tendo em vista que eles não pretendem defender seus interesses ?
Como reduzir o efeito do poder econômico nas eleições?
Como mostrar para o eleitor mais desinformado que candidato forte não é aquele que ostenta uma campanha milionária, mas aquele de igual origem, que "sente na pele" suas carências que deveriam ser providas pelo "ESTADO" e que tem mais chance de representá-lo com mais coerência?
Como convencê-lo da necessidade deste "corte de classe" nas eleições?

São perguntas difíceis e que dependem de uma infinidades de fatores que para serem enumerados aqui precisaria de laudas e laudas de um novo texto. Entretanto, para fechar esta modesta análise, deixo aqui um trecho para reflexão da Professora de Ciência Política da Universidade de York, Toronto, Canadá, Ellen Wood, onde ela demonstra a incapacidade de se estabelecer uma "democracia plena" dentro de um modelo capitalista de produção:

“Interessa-me deixar claro desde o começo que para mim, o capitalismo é em sua análise final incompatível com a democracia, se por “democracia” entendemos tal como o indica sua significação literal, o poder popular ou o governo do povo. Não existe um capitalismo governado pelo poder popular no qual o desejo das pessoas seja privilegiado aos dos imperativos do ganho e da acumulação e, no qual, os requisitos da maximização do benefício não ditem as condições mais básicas de vida. O capitalismo é estruturalmente antitético em relação à democracia, em princípio, pela razão histórica mais óbvia: não existiu nunca uma sociedade capitalista na qual não tenha sido atribuído à riqueza um acesso privilegiado ao poder. Capitalismo e democracia são incompatíveis também, e principalmente, porque a existência do capitalismo depende da sujeição aos ditames da acumulação capitalista e às “leis” do mercado das condições de vida mais básicas e dos requisitos de reprodução social mais elementares, e esta é uma condição irredutível. Isso significa que o capitalismo necessariamente situa cada vez mais esferas da vida cotidiana fora do parâmetro no qual a democracia deve prestar conta de seus atos e assumir responsabilidades. Toda prática humana que possa ser convertida em mercadoria deixa de ser acessível ao poder democrático. Isso quer dizer que a democratização deve ir da mão da “desmercantilização”. Mas desmercantilização por definição significa o final do capitalismo.”

Portanto, OLHO NO VOTO !!

2 comentários :

  1. O texto é tão bom, tão claro, tão perfeito que, o único comentário que se pode fazer, é: PARABÉNS!
    Na verdade há outro, saber que, e me entristecer por isso, será pouco lido, pouco compreendido e poucos darão o devido valor.

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  2. Valeu Lucio,. obrigado pelas palavras de incentivo !!

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