sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

DECLARAÇÃO POLÍTICA DA CST/PSOL




SOMOS SOLIDÁRIOS A FAMÍLIA DE SANTIAGO ANDRADE
SEGUIR NAS RUAS E MASSIFICAR O MOVIMENTO!

A morte de Santiago Andrade é uma tragédia que nos entristece muito. Santiago era um trabalhador da imprensa, que durante sua jornada de trabalho, morreu atingido por um rojão lançado por dois jovens de forma inconsequente e irresponsável. Infelizmente, esta ação colocou a justa luta contra o aumento das passagens e a repressão aos manifestantes num segundo plano. Parecido com o que aconteceu na heroica greve dos professores de 2013 no Rio de Janeiro, onde ações desastradas, executadas por fora do comando de greve da categoria, ganhavam mais destaque do que a luta que estava em curso. De novo, vimos a mesma atitude: sem discutir com ninguém, alguns poucos foram travar sua própria “guerra”, alheios ao fato de que a manifestação tinha se dispersado pela repressão da PM. Longe de ajudar a mobilização, os grupos e indivíduos que atuam desta forma, conscientes ou inconscientemente, não fazem mais que levar água ao moinho de nossos inimigos. Ações com essa metodologia só atrapalham a luta e a organização dos manifestantes.
Paes, Cabral e Dilma devem estar felizes com este desfecho que tirou de cena a luta contra o aumento do transporte e encorajou os setores governistas e a grande imprensa em sua cruzada por aprovar leis que criminalizam os movimentos sociais. Ou seja, utilizam cinicamente esse triste episódio para tentar legitimar uma linha repressiva contra o movimento e a esquerda. Porém, o que está por trás dessa movimentação é o desespero desses governantes que desejam garantir “paz” para a Copa do atual dono do país, a FIFA, e blindar os descontentamentos com o governo de Dilma e as manifestações contra os efeitos da crise econômica.
O senador Jorge Viana, PT/AC, cúmplice da entrega do patrimônio público de seu governo, dos atos de corrupção e do caos da saúde pública, saiu na frente. Ele, que não se manifestou pela barbárie no Maranhão - governado por seus amigos, os Sarney - defendeu a aprovação em regime de urgência de um projeto de seu colega petista Paulo Paim que classifica como terrorismo os atos de violência praticados durante manifestações de rua. Para eles, seria terrorismo "Provocar ou difundir terror ou pânico generalizado mediante ofensa ou tentativa de ofensa à vida, à integridade física ou à saúde ou à privação da liberdade de pessoas". Então, cortar uma rua ou ocupar um prédio público será terrorismo. Uma verdadeira declaração de guerra contra os movimentos sociais. Para estes “ilustres” petistas, o MST, partidos de esquerda, sindicatos, o MTST, estudantes e todos os que se manifestam e tem que enfrentar a truculência dos policias e de seguranças privados, passarão a ser consideradas organizações terroristas. A reacionária proposta contempla penas maiores às definidas pela ditadura militar para quem atacava seus quartéis. Já o Secretário de Segurança de RJ, José M. Beltrame, chefe de uma das polícias que mais mata no mundo, a mesma que foi responsável por mais de 90% dos ataques sofridos pelos jornalistas desde em junho de 2013, a mesma que matou Amarildo e que tem sido denunciada por organismos internacionais por agir com truculência e selvageria, correu a Brasília para pedir aos picaretas do Congresso, tratamento de urgência para um projeto que controla as manifestações, inviabilizando qualquer protesto, enquanto a PM pode vir armada até os dentes, mascarada e protegida sob as asas da “segurança pública”.
Se algo faltava, o governador, Sergio Cabral, que entregou o estado do Rio a Cavendish e a Eike Batista, lançou uma denúncia: "Há partidos políticos e organizações embutidos nessas ações de violência que ocorrem durante manifestações”. Seguiu a mesma linha do advogado defensor de milicianos que tomou o caso dos jovens acusados da morte de Santiago e tentou, sem sucesso, comprometer o prestigio de Marcelo Freixo e do PSOL. Para quem faz parte do partido dos Sarney, Calheiros e Jader Barbalho, é muita cara de pau!

Nenhum passo atrás!

As medidas repressivas do Governo Dilma, governadores, do congresso e da impressa não vão deter a onda de lutas que percorre o país. O ajuste fiscal, a alta inflação, as mortes nas favelas, a falta de água e luz, os péssimos serviços públicos, são combustível para as mobilizações. É o que vimos nas explosivas manifestações no Engenho Novo e na Praça Seca, no RJ, ou no forte ato do MST, no DF.
Não vamos permitir o avanço de medidas que criminalizam os protestos, pois no fim das contas são os próprios governantes, os partidos tradicionais e o sistema político atual os verdadeiros responsáveis pela onda de violência que percorre as ruas e as favelas desde junho. Ao contrário do que Beltrame afirma, de que faltam regras e leis para regular manifestações, dizemos que o que falta é uma política social comprometida com as necessidades da população trabalhadora; falta uma educação e uma saúde pública digna e de qualidade; falta um transporte público eficiente e barato para que a população trabalhadora deixe de viajar como gado nos metrôs, nos trens e nos ônibus das grandes capitais com o preço das passagens pelas nuvens; falta punição aos corruptos; falta auditar as obras da Copa e das Olimpíadas para saber onde foram parar os bilhões investidos com dinheiro público.
Santiago Andrade era cinegrafista da Band, mas ele não é a Band, nem a Rede Globo ou a Veja. Não podemos confundir os trabalhadores do setor com as grandes mídias que, apoiadas pelo poder político, querem converter em terroristas os supostos culpados. Depois de serem acuados pelas mobilizações junto aos políticos da ordem, agora bradam contra o caos e a violência. Essa grande imprensa que na maior parte de seu tempo acompanhou mansinha os anos de chumbo e quase sempre se omite à violência policial, não tem moral para tanto. Seus gritos e manchetes sensacionalistas vão ao encontro da política do governo na tentativa de criminalizar as lutas para abafar a voz das ruas. A hipocrisia da patronal da comunicação fica explicita na forma distorcida como atacaram Freixo. É essa mesma patronal que precariza as condições de trabalho, nega equipamentos de proteção individual e não garante adicional de periculosidade aos profissionais da área.
Santiago Andrade era um trabalhador consciente de que sua profissão era: “... ingrata, (com) salário baixo e muita ralação” como conta sua filha na comovedora carta de despedida ao seu pai. A mesma emocionante carta relata: “A gente que é de família humilde precisa provar duas vezes a que veio. Me deixou a vida toda em escola pública porque preferiu trabalhar mais para me pagar a faculdade. Ali o sonho dele se realizava.” Por isso a morte de Santiago Andrade é mais trágica e repudiável. Porque era um dos nossos. Um trabalhador humilde, que ralava para ganhar o sustento. Com certeza, se não tivesse que carregar a câmera em dias de manifestação, Santiago poderia muito bem estar nos protestos ao nosso lado. É o que demonstra sua história de vida. Isso nos incentiva a continuar a luta.
Por isso, os partidos de esquerda, os movimentos populares, os sindicatos e organizações estudantis, devem unificar forças para repudiar a utilização desse episodio visando a criminalização das manifestações. Por outro lado necessitamos de uma comissão independente conformada pela OAB, ABI, DDH, Sindicato dos Jornalistas, Centrais Sindicais, DCE’s, para acompanhar as investigações da policia e apurar integralmente todo o caso, garantindo a divulgação da verdade dos fatos. Devemos denunciar juntos e derrotar o cerceamento de direitos que o governo e a burguesia tenta efetivar, garantindo o livre direito de manifestação.

Rio de Janeiro, 13 de fevereiro de 2014
Corrente Socialista dos Trabalhadores - PSOL

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