A POLÊMICA DA EMANCIPAÇÃO DE TAMOIOS

A recente movimentação no Congresso, onde as propostas de emancipação de alguns municípios, inclusive Tamoios, tem possibilidades de voltar a pauta, faz crescer expectativas e acirrar os ânimos no segundo distrito de Cabo Frio, reanimando um tema que estava um pouco adormecido nas mentes e corações dos moradores.
A discussão é antiga e reflete de certa forma, a insatisfação dos moradores com o que foi realizado em obras e políticas públicas no distrito ao longo dos últimos 20 anos. O distrito é responsável por parcelas significativas dos royalties recebidos pelo município e não se sente contemplado com esta riqueza.
Isto é fato concreto, mas não pode ser o único motivo para se pensar em emancipação. Se tivéssemos tido governos sérios e comprometidos com os reais interesses da população de todo o município, tal situação não chegaria ao nível da desigualdade social e do descaso de hoje.
Digo isso, porque o abandono que Tamoios vive não é diferente do tratamento dado à região periférica do próprio primeiro distrito. Bairros como Monte Alegre, Boca do Mato, Vila do Ar, Tangará, Parque Eldorado, Guriri, Maria Joaquina e muitos outros, também padecem dos mesmos problemas crônicos de falta de investimento.
Tamoios têm o agravante da distância do centro mais desenvolvido da cidade, onde funcionam as estruturas de governo e equipamentos urbanos mais estruturados.
Se tivéssemos tido planejamento, investimento e gestão de obras e políticas públicas de forma integrada em todo o município e a Estrada da Integração asfaltada, acredito, que este processo de “racha” que é movido por todos esses sentimentos separatistas não ocorreria hoje.
Esta integração aproximaria culturalmente os dois distritos e não teríamos esta “desculpa”, às vezes usada de forma preconceituosa por moradores do primeiro distrito, que Tamoios se parece mais com Casemiro de Abreu e Rio das Ostras do que com Cabo Frio.
Entretanto, com o diz o ditado popular, “agora a Inês é morta” e o processo emancipacionista não tem retorno. Considero importante que a população de Tamoios faça duas reflexões: 1 – Por que sempre o candidato da “máquina” vence as eleições no distrito, embora sem fazer nenhuma realização importante? 2 - Por que as pessoas que lideram o movimento têm estreitas ligações com estes mesmos governantes passados?
Não darei as respostas que penso, deixo como disse, para a reflexão dos próprios tamoioenses.
Nada vai mudar se o processo de emancipação sair vitorioso e a administração do novo município for entregue através do voto a “essa linha auxiliar dos dois coronéis”. Vão se repetir os antigos vícios da velha política liderada pelos dois mandatários de plantão que (des)governaram a cidade e mantém seus representantes em posição de destaque na liderança do movimento.
Sou a favor da emancipação, mas acho que independente do plebiscito, antes é necessário fazer uma pesquisa realizada por um instituto idôneo para medir verdadeiramente a vontade da maioria da população. Esta maioria não pode aceitar ser usada como massa de manobra nas mãos de uns poucos. Dela deve sair novas lideranças independentes para uma participação mais ativa no movimento e no complexo processo de negociações político-econômicas que precisam ser estabelecidas para que a emancipação possa ser juridicamente conquistada.
Entregar “o galinheiro e os ovos de ouro negro” as “velhas raposas” da política de Cabo Frio não vai emancipar o distrito e nem a cidadania das pessoas, através das políticas públicas essenciais.
Ninguém pode esquecer que durante os últimos 16 anos transitaram quase 6 bilhões de reais pelos cofres públicos e esta triste realidade vivida por Tamoios poderia ter sido transformada se tivesse tido vontade política por parte destes governantes.
Não fizerem porque não quiseram. Isso é uma verdade inquestionável.
Informação e renovação são palavras chaves que a maioria dos moradores de Tamoios deve levar em conta para dar o verdadeiro sentido a palavra “Emancipação.”


Claudio Leitão é economista e membro da executiva municipal do PSOL em Cabo Frio.